terça-feira, 26 de outubro de 2010

MATÉRIA PUBLICADA NO JORNAL COMUNICARE EM NOVEMBRO DE 2009


Impasse entre ordem e cumprimento. A Urbs deveria ter desligado os radares das ruas de Curitiba logo apos o acórdão, mas isto ainda não aconteceu. Qual é o papel do radar afinal, punir ou educar?

O Tribunal de Justiça do Paraná acredita que a prestação de serviços por parte da Consilux, empresa que mantem os radares de Curitiba, é irregular. Segundo o TJ-PR o trâmite correto é um novo processo de licitação que deveria contratar uma empresa dentro dos parâmetros exigidos. No entanto a empresa que ainda está no posto, vem se mantendo por meio de aditivos de prestação de serviços desde 2001.
 No dia 03 de novembro saiu uma decisão em caráter liminar, da 4.ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, ordenando a suspensão do contrato entre a Prefeitura e a Concilux, o que implica no desligamento dos equipamentos. A consequencia do desligamento dos radares é a maior discussão. A equipe do A Voz Curitibana ouviu alguns usuários do trânsito sobre o assunto. Uma enquete perguntou se os radares serviam para educar o condutor e somente 3% dos entrevistados acredita que sim, mas a grande maioria acha que não.
 A estudante de Jornalismo Cintia Aleixo, 20 anos, disse que para ela os radares não educam, mas sim agem de forma punitiva para quem infringe leis. Disse ainda que para educar os condutores será preciso bem mais que isso e que com certeza muitos e muitos anos até obtermos um resultado. Pedro Brasil Jr, editor de 35 anos, também acredita que os radares não são educativos. Ele afirma que “os radares foram colocados em pontos estratégicos apenas com o intuito de flagrar distraídos ou afobados. Trânsito é simplesmente uma questão de bom senso e educação. Não adianta radar se, ao passar por ele reduz-se a velocidade para menos de 60km/h e logo adiante, poucos metros, os condutores atolam o pé e lá vão perto dos 100Km/h. Fabricamos veículos potentes, enchemos as ruas e estradas de radares e o pior, temos que trafegar na buraqueira ou pagar pedágio para trafegar um pouco melhor. E paga-se muito por tudo isto sem que se veja uma solução". Para ele, uma primeira providência seriam as lombadas tradicionais, fiscalização e blitzes trariam um melhor resultado. 
Já a pedagoga e instrutora de trânsito Êrica Nickel, de 32 anos, acredita que o radar educa justamente através da punição, segundo Êrica “o adulto já adquiriu e reforça dia a dia comportamentos errados no trânsito. Os radares funcionam como um controle comportamental e educam por meio da punição, já que não temos educação de trânsito de qualidade e permanente”. Ela lembra que para mudar o comportamento é preciso educação a longo prazo, daquela que aprendemos em casa e na escola, fiscalização para fazer cumprir a lei e infraestrutura, como vias bem sinalizadas, adequadas a todos os usuários, etc.
Vanessa Serrão, consultora de vendas, de 27 anos, além achar que os radares educam, é contra o desligamento, até que o Curitibano e os brasileiros, como um todo, sejam de fato educado antes de começarem a dirigir. Assim como o web-designer de 28 anos, Ronaldo Ribeiro, que considera que mesmo não agindo de forma educativa, ele serve para manter a ordem no trânsito das cidades. 
O engenheiro especialista em trânsito Celso Alves Mariano lembra para o fato de que o trânsito tem tido índices crescentes de acidentes, e estes estão se tornando cada vez mais violentos. Ele acredita que ações sociais, campanhas e a mídia ajudam muito, mas não é o suficiente. Segundo o especialista o radar é importante, mas educação não pode ser somente punitiva, como o que acontece com quem ultrapassa os limites de velocidade.  A população de hoje, condutores ativos, em sua maioria, segundo Celso, não foi educada para o trânsito, e se a quantidade de acidentes ainda não virou uma carnificina, é por que muitos têm medo, seja de ser multado ou mesmo de morrer por conseqüência de um acidente. Para ele desligar os radares não será uma boa idéia, pois estes índices com certeza aumentarão, e isto vai impactar principalmente em gastos da verba pública, dinheiro que poderia ter como destino a construção de escolas, hospitais e a educação, principalmente para o trânsito.
Celso compara os infratores, inconscientes do trânsito, com aqueles que não se cuidam na hora da alimentação, ou que fumam. O ato de dirigir ou estar dentro de um carro em movimento sem o cinto de segurança é o mesmo que fumar, a diferença é que o efeito do primeiro é imediato e pode envolver outras pessoas. No entanto ainda se vê com facilidade nas ruas, muitos condutores sem cinto, ao volante, e até com um cigarro na mão. Ele finaliza dizendo que o começo deste trabalho para melhorar o trânsito nacional é a conscientização, principalmente dos órgãos responsáveis, mas também por parte dos próprios condutores, que precisam entender que o trânsito machuca, de verdade.

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