terça-feira, 8 de novembro de 2011

Tive que chorar

Para uma canceriana incorrigível, chorar não é algo difícil. Pelo contrário, as lágrimas nunca foram tão soltas como nos olhos dos cancerianos, e principalmente os meus. Perseguida, injustiçada, dengosa... canceriana. Mas este post não tem nada a ver com o meu signo e sim com alguns acontecimentos recentes da minha vida "mãe/mulher/estudante" - profissional só nas horas vagas.
O que aconteceu foi que ontem à noite eu chorei. Feito criança, de soluçar, de chorar alto e até de babar pelos cantos da boca, retorcida de tanto chorar. E o fato se deu quando já o dia 7 ia dizendo adeus e dando lugar ao dia 8, mas os motivos começaram bem antes. Muito antes...

Stress, já foi dito e desdito, que era doença de poucos, e depois de muitos. Que era frescura e depois que era sério. Que tinha remédio e que não tinha. Pois bem, eu tomo um certo remédio, e até faço graça disso, mas às vezes assumo que é graças ao tal milagroso que não mato um e vou pra cadeia, devido aos meus instintos, digamos, apurados...
Sou meio nervosa, e parece que este fator chama mais desgraça. Pois bem, ontem, dia 7, pela manhã, começamos a fazer um trabalho de faculdade maravilhoso, que só vamos conseguir terminar por que esta, que vos fala, vai poder fazê-lo devido ao seu estado temporário de desemprego. Prazo curto para muita coisa - causa número 1.
Depois, uma bela maratona de aulas, importantes, porém bem pesadas e difíceis de atentar, já que o dia estava quente e sonolento, apesar de raivoso. O problema começou bem aí, no final desta maratona. Como de costume me despedi dos colegas fazendo planos para o dia seguinte: trabalhos, edições, problemas, etc. Fui até o estacionamento logo ao lado do bloco, onde costumo deixar a moto, uma BIZ, que tem sido crucial na minha vida. Normalmente (e desatentamente) coloquei a blusa de chuva, conferi a carteirinha - que por sinal está quebrada -, subi na pequena e comecei a andar em direção ao portão pelo qual sempre saio. Eis que a moto se comportou de forma estranha, rabeou, pulou e balançou um pouco mais do que o de costume, causado pelo desnível do calçamento da faculdade.
Estranhei, mas me recusei a olhar. No momento em que eu cheguei à portaria, para sair, a moto me deu mais um sinal, desta vez mais forte. Escorregou.
Eu parei e vi: o pneu traseiro completamente arriado.
Simples. Ligar para o marido. Não sei o que fazer, então acatei a sugestão dele e tentei ir seguindo de moto até em casa - uns 15 Km - devagarinho e me apoiando no guidão, para não forçar o pneu.


Foi por Deus


Foi por Ele que eu não morri. Logo ao sair do portão da faculdade eu percebi que a moto não respondia ao comando "curva à esquerda" muito menos a qualquer outro comando. Ela parecia um touro bravo, desgovernado. Eu reduzi novamente e fui tentando andar devagar, mas precisava mudar de faixa, para virar á esquerda, para poder ir embora, pela BR 116. O QUÊ? BR 116??
Sim, esta pequena anta queria e entrou na rápida. Pelo retrovisor eu via os faróis velozes se aproximando e ouvia as buzinas de todos aqueles nos quais eu quase bati. Foram umas 3 ou 4 buzinadas e finas, até que eu conseguisse pegar a faixa da direita, sentido Avenida das Torres. O problema foi que quando passou a ponte sobre o rio Belém começou uma curva, e a moto, que parecia cada vez mais nervosa, ainda mais do que eu, foi saindo de vez do controle. Catei cavacos, corcoveei, coloquei os pés no chão. Uma leva de fluxo de veículos já havia passado, com mais finas e faróis altos. Eu com o pisca direito ligado - já que a BIZ não tem alerta - rezava e quase chorava com medo de ser atingida por algum daqueles caminhões que passavam à toda, bem ao meu lado. Parei. Tremendo, parada bem no canto do meio fio, me inclinei para sair ainda mais da rodovia, mas como sou pequena e fraca, além estar com as forças comprometidas pelo nervosismo, eu não conseguia colocar a moto em cima da calçada. O meio fio parecia ter mais de 30 cm - trágico.
Mas como Deus nunca falta, um motoqueiro parou atrás de mim, e com o polegar levantado fez sinal de quem pergunta: "Está tudo bem?". Respondi com o polegar abaixado: "Está tudo mal". Ele colocou a moto dele na calçada e me perguntou o que eu queria que ele fizesse por mim. Muito querido. Sinto muito não ter perguntado seu nome, para mencionar ele nas orações. Mas como foi Deus que mandou, então tá tudo certo.
Disse a ele, que precisava por a moto na calçada, para poder seguir até o posto, que estava há 500 metros dali. Foi o que ele fez. Agradeci. Ele seguiu, e eu também. Mas eu segui à pé, de salto, blusa de chuva, capacete e luvas, empurrando a moto que, nesta hora, estava pesando uma tonelada. Suava. Os sustos no trânsito e o medo de passar à pé naquele trecho escuro fizeram com que o tempo parecesse muito mais lento e a distância muito maior. Agora, calma e na segurança do lar, vejo que "tava mole", nem precisava tanto drama. Mas na hora estava trágico, e fui seguindo. Faltando pouco, uns 50 metros, para chegar no posto, o terreno ficou acidentado e inclinado em direção à rodovia. As pedrinhas soltas do chão batido, que ficaram no lugar do calçamento asfáltico, não ajudavam em nada a carregar a monstrenga da moto, que já parecia me dizer "Me deixa aqui mesmo".  Com dificuldade eu consegui pular o meio fio de frente, atravessar a rua paralela à BR e seguir pela calçada do outro lado. Cheguei no posto. Não havia o que fazer. Ainda encontrei uma das minhas amigas, de quem eu havia me despedido há minutos atrás. Ironia. Mão de Deus. Ela me confortou. Me acalmou. Deixei a moto e peguei o ônibus rumo ao lar.
Até esta hora eu havia derramado duas ou três lágrimas, de quem já não sabe o que fazer. Mas encontrar esta amiga, e falar com a minha mãe e meu marido, que me ligavam me dando apoio, foram ajudando para que eu não caísse no chão.


E peguei o ônibus


Mas antes de pegar o ônibus ainda tive que xingar o motorista que foi parar meia quadra depois do ponto. Onagro! Dentro do ônibus, fui lá para o fundo. Não queria encontrar conhecidos, eu tremia de nervoso, não queria bater papo. Detesto ônibus. Com dois capacetes na mão, me abaixei e coloquei um no chão. O outro tinha a minha bolsa dentro, e um rapaz simpático, sentado nos últimos bancos, conversava animado quando fez uma pausa e se ofereceu para segurar o outro capacete, que naquele momento estava mesmo maltratando meus braços trêmulos. Estava difícil de segurar até o meu próprio peso. Dei o capacete para ele, e no decorrer do trajeto não pude deixar de notar a preferência dele. Um estalo me ocorreu, mas me segurei. Comecei a pensar que nada acontece por acaso e tals... Fiquei quietinha. Quase chegando no ponto - que na verdade eu nem sabia ao certo onde era, já que as linhas mudaram e fazia muito tempo que eu não andava de ônibus - eu peguei o capacete com ele. Agradeci. Virei. Parei. Virei de novo. Disse a ele que me desculpasse, mas que nada é por acaso mesmo. "Tenho um irmão, que acho que combinaria com você". Disse a ele o nome do meu irmão e perguntei se ele o conhecia. Não. Mas então ficou de procurar no Facebook, e se mostrou muito interessado. Vou ficar feliz se eu fui designada, pelo plano superior, para encontrar alguém para meu irmão, dentro do ônibus...


Sorrindo


Foi como eu desci do ônibus, depois de ficar aliviada, sabendo que meu marido estava à caminho, com um par de chinelos para que eu pudesse andar até em casa. Aproximadamente 10 quadras era o que nos esperava. . Uma caminhada básica, nada de mais depois de ter andado quilômetros empurrando uma tonelada de chumbo em forma de moto. Os braços ainda tremiam, mas agora menos. Fomos andando, conversando, e eu contando a saga da BR para ele. Uma das frases que eu disse foi: "Vamos estourar logo uma champanhe, e deixar 2011 para trás... Já deu o que tinha que dar." Coitada...
Mais meia quadra andando, faltando pouco para chegar em casa, eis que a chave de ouro fechou a noite. Três rapazes de bicicleta nos cercaram. Só se ouvia "Não olha pra nós!", "Quer levar um tiro?" e "Cadê o celular?". Não demos o celular. Eles queriam dinheiro e, tudo o que eu tinha para passar os próximos dias, R$ 20, eles levaram. Um deles parecia ser o líder, e era quem revistava as nossas coisas. Ele queria levar a bolsa, mas argumentei em relação aos documentos, sobre a dificuldade de fazer segunda via. Ele deixou. Mas ele queria celulares. E a gente insistia que não tinha.
Não dei meu celular, que estava num bolso escondido na jaqueta, e dentro da bolsa ele achou meu HD externo, que ficou tentando abrir para ver o que tinha dentro. Quase rasgou a capa. Não reclamei, só não queria demonstrar apego, já que trabalhos únicos estavam exclusivamente ali. Um curta-metragem em fase de pós-produção, com prazo de 12 dias para ser entregue estava ali. E somente ali. Quando viu que não ia conseguir abrir a caixinha preta, ele perguntou o que era aquilo. Eu falei em tom de desdém, mas do tipo, "nem leva, não vai usar", que era só trabalho da faculdade. Ele nem deu bola. Amém Jesus!
Eles pegaram os vinte reais e a carteira do meu marido - sem dinheiro - e nos mandaram andar na direção contrária à que estávamos vindo. Eles seguiram, e logo ouvimos: "Aê mano, sua carteira!". Eles jogaram a carteira no chão e foram embora. Aí o meu lado super canceriano aflorou, com razão, e a minha indignação com a situação de miséria e falta de edução para o pobre, me fez ter raiva do mundo. Este mundo em que uns ganham nada enquanto poucos ganham muito. Estes uns não sabem a que meio devem recorrer, e partem para meios escusos. Ou não. Talvez seja só vagabundice mesmo. Mas este longa-metragem no qual eu me meti me deixou chorando feito um bebê. Andei o resto do trajeto soluçando. Chorei muito. Não precisava, mas chorei. Tive que chorar. E o motivo de tudo isto? Um pequeno prego para caixas de MDF. Um prego com menos de 1cm, foi o causador do buraco no pneu da moto, que junto com atitudes erradas, acabou por desencadear esta noite do horror, que virou a noite de ontem. Segunda-feira, 07 de novembro de 2011. E o que faço agora? Agradeço à Deus, por não deixar que nada de mais grave acontecesse. E depois da lição salvei o curta em mais lugares, só por precaução. Vai que...






2 comentários:

  1. Aff Miga, se benze kkkk ... Pense do lado positivo.. so levaram 20reais, naum machucaram ninguem.. e o pneus... a o pneu.. esse vc troca e coloca fogo no maldito q deu azar.. kkk Fogo naum.. polui o Ar. kkk

    Bjoos se cuide viu... Lari

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  2. É Lari. Já me livrei daquele pneu, que por sinal já estava querendo me sabotar de novo, cheio de arames saindo dele. Por que as coisas não duram mais, né? Uma borracha que demora tanto para se decompor tem vida útil de apenas 2 anos. Péssimo. Mas tudo bem. Beijos, e obrigada pela visita! =)

    Day

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